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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lazareto Novo ou Asilo 28 de Maio - Porto Brandão


O Lazareto Novo de Lisboa era um local onde os viajantes que entravam na capital por via marítima suspeitos de alguma doença contagiosa ficavam retidos de quarentena. Este lazareto fica situado no Porto Brandão, localidade pitoresca e aldeia piscatória na margem Sul. Estava agregado ao forte de S. Sebastião da Caparica ou Torre Velha,  foi construído em em 1869 para substituir o antigo que  que estava integrado na fortaleza atrás mencionada. Mais tarde foi baptizado como Asilo 28 de Maio e albergou no pós 25 de Abril sob a tutela da Casa Pia, uma pequena multidão vinda das províncias africanas, em especial de Cabo Verde.

Este edifício é de uma envergadura extraordinária, era tido como um dos melhores e maiores da Península Ibérica, distingue-se pela sua arquitectura de planta radial e é composto por seis blocos no seu interior. Os doentes e funcionários coexistiam em alas separadas e possuia também um cemitério privativo, além de uma ala para desinfecção e armazéns.Chegou a servir de morada a 841 almas nos seus últimos tempos. . 


É um monumento que foi devotado ao ostracismo pela nossa história, ali se passaram inúmeros episódios de relevo que caíram no esquecimento tendo sido apagados das nossas memórias. Soube da sua existência por um programa do Prof. Hermano Saraiva e desde então que o quis visitar. Quando iniciei este trabalho lembrei-me de o incluir e comecei as diligências para o fotografar. Contactei a junta de freguesia que me enviou para a Casa Pia, passados um mês e meio e após várias tentativas fui novamente  enviado para a Sagestamo, empresa pública que faz a alienação do património do estado e era na altura o proprietário, foi recentemente vendido a uma sociedade investidora que faz questão em preservar o anonimato.

Tive na Sagestamo uma  longa e prazeirosa reunião onde expus o meu projecto à direcção que depressa anuiu na autorização para o visitar,  tal como fizeram questão de se juntar e acompanhar a sessão de fotografia, pois são também aficcionados dessa arte. Formou-se um divertido grupo de fotógrafos que mais  pareciam crianças a viver uma aventura dos cinco. Além de ter enriquecido este portfólio ainda fiz bons amigos, apoiantes incondicionais desta causa que é a preservação do património arquitectónico.


Quando cheguei à ruína, separei-me do grupo para melhor sentir o ambiente, tentar viver as suas histórias e ouvir as suas memórias impregnadas em todo o lado. Sabia que além de um incêndio, tinha havido uma derrocada que infelizmente ceifou algumas vidas. Havia vestígios dos últimos locatários em cada metro quadrado desta estrutura. Restos de brinquedos, roupas velhas e esquecidas, peças de mobiliário, electrodomésticos ferrugentos, as caixas de correio que ostentam ainda os nomes dos antigos inquilinos, pinturas murais... Autênticos “fantasmas” que se fazem ouvir a todo o instante cuja presença não nos deixa esquecer as vivências diárias de uma comunidade que ali habitou durante vários anos, criando uma curiosa viagem no tempo.


Todo o complexo é rico em linhas de pura  de arquitectura, com a traça de um estilo pesado e austero, porém com algum romantismo e ao mesmo tempo muito rico em pormenores  que indubitavelmente valorizam este espaço...colunas de ferro fundido que se mantém tão firmes como quando foram concebidas para suportar os pesados tectos, enormes escadarias que conduziam a todas as alas entre si por entre labirínticos corredores, permitindo uma comunicação rápida e eficaz dentro de todo o edifício.

Por ter havido derrocadas e devido a prolongado estado de abandono do Lazareto, é deveras perigoso aventurarmo-nos nalguns dos locais mais  fotogénicos, além de que a sua fachada Norte é demasiado grande e não nos  permite um espaço de recuo suficiente para tirar partido de um enquadramento total, pois fica sobranceira a uma arriba mesmo de frente para Belém, como tal nunca uma reportagem fotográfica conseguirá expor da melhor maneira esta grandiosa estrutura...gostava de ter um avião só para estas andanças...quem sabe um dia... 

A ruína é guardada por um funcionário e sua família, o simpático Xarepa, chamamos-lhe por brincadeira o “Shrek”, que nos soube receber com um copioso lanche antes da despedida gerando-se depois uma agradável tertúlia. O “Shrek” tem a sua criação no local e entre cabras, ovelhas, galináceos e os amigos "sacanideos", lá vive feliz com uma magnífica vista sobre Lisboa, na calma e melancolia sossegada de um monte devoluto tão perto e tão longe da civilização. A sua generosidade e simplicidade marcam a sua humilde pessoa, tal como um frade que recebe no seu mosteiro e que quer ter a certeza que todos ficaram agradados.
Foi um prazer conhecer o "Shrek"...

 Disseram-me que está pensado um hotel para o local, seria uma grande iniciativa na reabilitação deste imóvel, ele merece e nós também...



 

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